Reflexão

A FÉ NÃO CONSISTE NA IGNORÂNCIA, MAS NO CONHECIMENTO.
João Calvino

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Viajantes e cientistas que pesquisaram a Amazônia

Viajantes e cientistas que pesquisaram a Amazônia

Quanto menos comes, bebes, compras livros, vais ao teatro e ao café, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. «És» menos, mas «tens» mais. Assim, todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça.
Karl Marx.
A Amazônia além de ser a mais fantástica floresta natural em pé no mundo é um inimaginável reservatório de riquezas, desde a água doce, já esgotada em grande parte do planeta, como as gigantescas reservas minerais, animais e vegetais. Milhares e milhares de pesquisadores e cientistas desenvolveram e desenvolvem trabalhos em suas florestas, é pena que a ampla maioria desses pesquisadores e estudiosos são de origens e interesses estrangeiros. Podemos afirmar que o Brasileiro, entre outras nacionalidades, é o que menos conhece os recursos existentes, além da cultura e história amazônica. A Amazônia é palco das disputas e cobiças internacionais desde a assinatura do tratado de Tordesilhas, quando portugueses e espanhóis se estranhavam por sua posse.

Neste artigo, selecionei um pequeno número de cientistas e pesquisadores que visitaram nossas terras com o objetivo de descobrir suas riquezas e potencialidades. A intenção é demonstrar de forma muito simplória o grande interesse que essa região despertou e desperta em cientistas de todo o mundo. O artigo que hora é publicado também possui a intenção de despertar nas pessoas que vivem na Amazônia o interesse por sua história, cultura e conhecimentos sobre suas riquezas.

Charles Maria de La Condamine: foi um viajante francês que comandou uma das primeiras expedições pela Amazônia, percorreu vários países da América do Sul e América Central, entre os anos de 1743 a 1746. Condamine descreveu vários tipos de plantas e animais em sua viagem, na flora destacou a seringueira, Hevea brasiliensis, árvore que produz a borracha, conhecida pelo caboclo amazônico como o “Pau que Chora”. Os estudos foram realizados há quase cem anos, antes da ocorrência do I Ciclo da Borracha. Condamine afirmou que aquela matéria prima seria fundamental para o novo modelo industrial que se desenvolveria no futuro. Acertou em cheio, na metade do século XIX ocorreu a Segunda Revolução Industrial européia e americana, onde a borracha se destacou como uma matéria prima fundamental para seu desenvolvimento.
Alexandre Rodrigues Ferreira: Um dos poucos brasileiros a estudar a Amazônia no século XVIII. Nasceu na Bahia, no dia 27 de abril de 1756, e morreu em Lisboa no dia 23 de abril de 1815, na semana em que completaria seus 59 anos. Em 1777, quando tinha somente 22 anos, foi nomeado pela Rainha D. Maria I como “O Primeiro Naturalista Português”, logo em seguida, foi encarregado da expedição científica denominada “Viagem Filosófica” que complementou a Comissão de Demarcação de Limites entre as fronteiras dos domínios de Portugal na América. Foi o maior empreendimento científico realizado no Brasil pela Coroa Portuguesa durante o período colonial. É importante ressaltar que essa é uma das mais importantes expedições feitas no período colonial, teve a sua frente um brasileiro, outra novidade, já que o estrangeirismo era tão comum no período colonial. Partiu, com o objetivo de descrever os aspectos dos três reinos da natureza (mineral, animal e vegetal), encontrados na Amazônia Brasileira e parte da Bacia do Rio Paraguai de modo que os limites dos domínios portugueses não se confundissem posteriormente com os dos vizinhos espanhóis. Em quase dez anos coletou grande variedade de plantas e animais da região. Também se dedicou ao estudo das populações indígenas, povoados, centros econômicos e administrativos da época.

Spix Martius
Os autríacos Spix e Martius: Em 1817, chegava ao Brasil uma missão austríaca que trazia a arquiduquesa Leopoldina para se casar com D. Pedro I. Nessa expedição, vieram também diversos cientistas e artistas europeus, entre eles o jovem botânico alemão de 23 anos Karl Friedrich Philipp von Martius. Seu trabalho durante a viagem renderia a obra Flora brasiliensis, que levou 66 anos para ser concluída e é ainda hoje o mais completo e abrangente levantamento da flora nacional, com 22.767 espécies catalogadas. Durante cerca de três anos, Von Martius percorreu, ao lado do zoólogo alemão Johann Baptiste Von Spix 1781-1826, aproximadamente dez mil quilômetros pelo interior do Brasil, recolhendo informações sobre a flora e as sociedades brasileiras. Em 1820 voltaram à Alemanha, onde começaram um esforço com o objetivo de catalogar e publicar o material aqui recolhido.
O barão de Langsdorff: Naturalista e diplomata germânico nascido em Wöllstein, Prússia, mais conhecido por seu nome em russo, Grigori Ivanovitch, Barão de Langsdorff, que ficou famoso por sua heróica expedição pelo interior do Brasil, indo de São Paulo ao Pará, via Cuiabá, em rústicas canoas pelos rios no século XIX. Formado em medicina, trabalhou algum tempo em Lisboa estando também no estado de Santa Catarina nos anos de 1803-1804. Membro da Academia de Ciências de São Petersburgo. Foi nomeado Cônsul-Geral da Rússia no Rio de Janeiro em 1813. Obteve a aprovação do czar Alexandre I para seu projeto de expedição pelo sertão do Brasil em 1821 e partiu de Porto Feliz, no rio Tiête em 1826, chegando a Belém mais de dois anos depois em 1828. Foi acompanhado dos pintores franceses Adrien Taunay e Hercule Florence, o primeiro morreu afogado no rio Guaporé em 1828 e Florence, que ficou para sempre no Brasil, narrou a aventura em: “Viagem fluvial do Tiête ao Amazonas” no ano de 1875, no qual relatou que o barão enlouqueceu quando percorriam o rio Juruena. De volta à Europa, aposentou-se e morreu em Freiburg im Breisgau, Alemanha. As amostras coletadas foram enviadas à Rússia, mas ficaram mais de um século esquecidas e, embora redescobertas em 1930, mais de 40 anos depois, no ano de 1973, publicou-se o catálogo da coleção. Parte dela foi vista na exposição Langsdorff de volta 1988-1989 montada em quatro capitais brasileiras.
Bates Wallace Os ingleses Bates e Wallace: Bates foi um naturalista inglês nascido em Leicester, Leicestershire, que viveu na Amazônia brasileira nos anos de 1848-1859, acompanhado de seu sócio e amigo Alfred Russel Wallace até o ano de 1852, onde catalogou cerca de 8.000 insetos até então desconhecidos numa coletânea de 14.712 espécies da fauna da América do Sul, que muito contribuiu para o progresso dos estudos da zoologia. Associados, Bates e Wallace, em 1844, excursionaram pelo rio Tocantins em busca de dados sobre a origem das espécies 1848-1852. Permaneceram no Brasil até percorrerem os rios Amazonas e o Solimões. Voltaram à Inglaterra em 1859, onde apresentaram à Linnean Society a monografia Contributions to an Insect Fauna of the Amazon Valley em 1861, que mereceu o aplauso de Charles Darwin, que veio a utilizar muito dos dados para elaborar sua teoria sobre a origem das espécies.
Bates foi nomeado secretário-assistente da Royal Geographical Society em 1864, foi eleito para a Royal Society no ano de 1881 e morreu em Londres.
Publicaram na Inglaterra vários livros sobre a Amazônia sendo o mais conhecido The Naturalist on The River Amazons 1863, traduzido no Brasil como “O Naturalista no Rio Amazonas em 1944.
Dr. João Severiano da Fonseca. Irmão do primeiro presidente da Republica do Brasil, o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca. João Severiano da Fonseca nasceu no Estado de Alagoas, a 27 de maio de 1835, filho do tenente-coronel cirurgião do exército Manoel Mendes da Fonseca o D. Rosa da Fonseca. Formado em medicina e tendo entrado para o corpo de saúde, faleceu no posto de general. Como membro da comissão demarcadora de limites com a Bolívia, percorreu um grande trecho da fronteira ocidental do Mato Grosso, entrando pelo rio Paraguai e saindo pelo rio Madeira. Espírito culto e observador, da sua longa viagem escreveu o magistral trabalho “Viagem ao Redor do Brasil”, que é o mais completo e valioso livro que tem se ocupado do extremo oeste Brasileiro. Sócio do Instituto Histórico Brasileiro, do Instituto Arqueológico de Pernambuco e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, deixou manuscrito um Dicionário Geográfico do Mato Grosso.
Claude Lévi – Straus. Criador da antropologia estrutural é um dos maiores nomes das ciências sociais do mundo. Sua brilhante obra “Tristes Trópicos” condensa toda a beleza de uma obra magistral. O Brasil revelado por ele extrapola as fronteiras chegando às terras dos Candiueu, Bororo, Nambiquara, e Tupi – Cavaíba. Durante a primeira metade do século XX, promoveu uma das ultimas viagens investigativas, chegou às terras de Rondon e onde se localiza hoje os municípios de Vilhena, Pimenta Bueno e Ji-Paraná entre outros pode produzir farto material detalhado sobre as populações indígenas. Uma verdadeira obra prima da antropologia moderna.

Emmanoel Gomes, professor e historiador

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